Ozempic e a Nova Era Estética
O limiar entre saúde e beleza
- ICBjr
- August 22, 2024
- 6:21 pm
Nos últimos meses, a medicação ‘‘Ozempic” tornou-se amplamente conhecida, especialmente devido à sua disseminação nas redes sociais. O medicamento, que outrora era restrito ao campo da saúde, agora transcende seu propósito original de tratar diabetes e, por vezes, a obesidade, para se inserir em uma nova e lucrativa fronteira: a indústria da beleza. Em um cenário onde a perfeição estética e magreza são considerados pilares de um estilo de vida saudável, o Ozempic ganhou notoriedade como uma solução rápida, eficiente e, consequentemente, desejada por muitos. Entretanto, o fácil acesso ao medicamento, muitas vezes sem a devida recomendação médica e acompanhamento profissional, representa uma preocupação crescente. Isso porque o uso indiscriminado do Ozempic não só coloca em risco a saúde dos indivíduos que não necessitam dele, mas também acende um alerta sobre os desafios éticos e de segurança que emergem quando a medicina e as pressões sociais estéticas se cruzam.
Originalmente aprovado em 2018 para tratar diabetes tipo 2, o Ozempic mostrou-se capaz de controlar não só os níveis de glicose no sangue estimulando a liberação de insulina pelo pâncreas e reduzindo a secreção de glucagon, mas também revelou um potencial surpreendente por conta de um de seus efeitos colaterais: a perda de peso.
Mas como um remédio desenvolvido para o controle da diabetes se transformou em uma ferramenta para emagrecimento? O segredo está na semaglutida, o princípio ativo desse medicamento que revolucionou a forma como lidamos com a saciedade e o apetite.
Você já se perguntou por que sentimos fome ou, mais importante, como conseguimos controlar essa sensação? A resposta está nos hormônios. A semaglutida mimetiza a ação do GLP-1, um hormônio que desempenha um papel crucial após as refeições: ele regula a glicemia ao estimular a insulina e inibir a produção de glucagon. Mas o GLP-1 faz mais do que isso – ele envia sinais ao cérebro para reduzir o apetite e desacelerar o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade. Esses efeitos, inicialmente explorados para beneficiar pacientes com diabetes, levaram à aprovação do Ozempic, sob o nome Wegovy, em 2023, para o tratamento da obesidade no Brasil.
No contexto atual, no qual as redes sociais disseminam tendências da beleza, ditam comportamentos e escolhas individuais, surge a questão: até que ponto é seguro manipular esses delicados processos biológicos para fins puramente estéticos?
A tendência de disseminação do Ozempic como uma fórmula milagrosa para a obtenção de um ideal estético, sustentada por influenciadores digitais com grande alcance e poder de persuasão, é extremamente perigosa, uma vez que esses perfis normalizam o uso indiscriminado de medicamentos e negligenciam o propósito central do fármaco: promover a saúde.
Apesar de o medicamento requerer prescrição médica, muitas farmácias não realizam a retenção da receita e, em alguns casos, até vendem o medicamento sem a devida prescrição. Essa prática não só facilita o acesso como também expõe os usuários a riscos significativos. A automedicação de Ozempic sem orientação médica adequada pode resultar em complicações graves, especialmente se houver erros na dosagem. Além disso, efeitos colaterais como náuseas, vômitos e problemas digestivos são comuns.
A popularidade do Ozempic entre indivíduos que não possuem diabetes tipo 2 ou obesidade é, decerto, motivo de grande preocupação. Ainda, o medicamento é relativamente novo, de maneira que os efeitos a longo prazo nessa população são desconhecidos. A ausência de dados concretos sobre os possíveis impactos na saúde de pessoas sem diabetes ou obesidade ressalta a urgência de seguir rigorosamente as orientações médicas e impedir o uso livre do Ozempic.
Promover o uso responsável não só protege o bem-estar pessoal, como também resguarda a integridade da saúde pública ao impedir a disseminação de tendências nocivas.
