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O colorido e cego amor

Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+ e trouxemos como a neurociência do amor
vê de maneira igualitária e respeitosa todos os tipos de amor!

O amor é um conceito que intriga a humanidade há milhares de anos e pode ser encarado e interpretado de diversas formas. O amor com certeza é um elemento que nos une enquanto espécie, mas que também pode nos separar. O amor é cego, no sentido de não se importar se a relação é de uma mãe com seu filho, um irmão com sua irmã ou de dois adultos. Hoje vamos falar do amor adulto e de como, dentro da sua cegueira, não se importa se o amor é entre dois homens, duas mulheres ou quem quer que seja.


Como sabemos, o amor é sujeito de estudo da humanidade faz tempo, podemos ver isso com filmes e mais filmes românticos, livros, peças de teatro, músicas e poemas que datam milênios atrás. Porém, neste mês do orgulho, vamos ver a química por trás do amor, estudando-o da maneira que sabemos fazer, a científica!


Inúmeros trabalhos já foram publicados estudando os hormônios, sinalizações e moléculas que envolvem o amor.  Mas inicialmente, precisamos saber que, do ponto de vista biológico, o amor é um estado excitatório do sistema nervoso, em que certas moléculas, os neurotransmissores, são secretadas em abundância quando vemos aquela pessoa especial e isso não conta só para o crush não, mas também para o seu cachorro, sua mãe, seu avô.


Tendo isso em mente, podemos destrinchar as moléculas envolvidas no amor. Inicialmente, nós temos aquele estado de paixão, que sentimos que não podemos viver sem a pessoa. É uma euforia quando a vê  e uma tristeza quando se está longe. Pois é, esse estado tem responsáveis bioquímicos. Vamos começar pela Beta-feniletilamina. Conhecido como hormônio da paixão, mesmo não sendo um hormônio, esse neurotransmissor é um dos primeiros a responder ao amor à primeira vista, servindo como um estímulo químico da paixão acelerando a conversa entre os neurônios, conhecida como sinapses, e o fluxo de informação entre as células.


Outro importante componente é a Adrenalina e Noradrenalina. Esses neurotransmissores são mais conhecidos pelo estado de luta ou fuga do corpo, que nos prepara para qualquer situação. Então, quando você vai mandar aquela mensagem arriscada pra pessoa especial e sente o coração saindo pela boca, ou quando você vê a pessoa vindo na sua direção e a pupila dilata, nada mais é que ação dessas moléculas no seu sistema nervoso. Mas também são elas que produzem aquela sensação de euforia e tontura típicas de um apaixonado. Insônia? Falta de apetite? também é por essas ai. Realmente, o amor é uma guerra e usa as mesmas moléculas de sinalização de um ataque, assim se você ver um leão faminto na sua frente ou a pessoa por quem está apaixonado, a resposta da Adrenalina e Noradrenalina será a mesma!

 

Com certeza você já ouviu falar das próximas moléculas a Dopamina e a Serotonina. A dopamina é a molécula responsável pela sensação de recompensa. Ela é o mimo que o cérebro recebe por você fazer algo prazeroso como comer um chocolate, praticar atividade física e até sexo, te causando uma sensação de bem estar. Já a serotonina é a molécula da felicidade, relacionada com o nosso bom humor acredita-se que ela seja a responsável pelos pensamentos obsessivos e do sonhar acordado na paixão. Mas você sabe o que essas duas moléculas têm em comum? Tanto a dopamina quanto a serotonina estão envolvidas nas sinalizações de diversas drogas no sistema nervoso. 

As drogas ilícitas são conhecidas pela sensação de bem estar e euforia que geram nos seus usuários e devido a enorme recompensa que elas fornecem ao cérebro, elas causam severas dependências. Assim, o amor também é uma droga! Quem nunca se apaixonou e se sentiu viciado na pessoa, sempre querendo estar com ela ou conversando com ela? Pois é, o amor é uma potente e perigosa droga para o nosso sistema nervoso que se utiliza da mesma sinalização da dopamina e serotonina nas drogas. 


Indo para uma fase mais tranquila agora, a fase do amor verdadeiro. A paixão e aquela tempestade de neurotransmissores e sinapses sendo feitas o amor verdadeiro é um estágio mais calmo e maduro do amor. E o grande nome dessa fase é a Ocitocina, o hormônio do amor. Esse hormônio é o principal responsável pela criação de laços sociais e está presente também na geração de sentimentos de prazer. Liberado pela neuro-hipófise, esse hormônio é um importante fator na ligação materno fetal tendo sua secreção estimulada na amamentação, além de promover a contração uterina durante o parto, ele também influencia na receptividade sexual nas mulheres. Assim, a Ocitocina está presente em todo tipo de amor, sendo de uma mãe com seu filho ou até de um casal que se ama.


Nesta grande sopa de neurotransmissores e hormônios e moléculas que configuram o amor, têm algumas coisas que não são vistas, como por exemplo, olhos. Sim, se todas essas moléculas que causam o amor não tem olhos, então o amor é cego? Sim, ele é cego, e isso implica que o amor não julga, que o amor não escolhe por quem você irá se apaixonar e que o amor não se importa pela opinião dos outros ou da sociedade, o amor ama.


Ainda não entendi, o amor é uma guerra por causa da Adrenalina, é uma droga por causa da Dopamina e Serotonina, também pode ser algo tão bonito como nas relações que geram Ocitocina e ele também é cego. Afinal, o que é o amor?

Já demos aqui vários embasamentos científicos de estudos sobre amor, mas no final do dia, e desse texto também, o amor é o que você quiser! Ame, porque, neurologicamente e em diversos outros aspectos, o amor sempre te fará bem. 

Então, neste mês do orgulho pense sobre a diferença no amor entre um homem e uma mulher e entre dois homens ou duas mulheres e tente achar uma diferença que não esteja sustentada por preconceitos, medo ou qualquer tipo de sentimento de ódio e você vai ver que não existe. Com este texto tentamos mostrar que, biologicamente, o amor é sempre igual e que meras moléculas sendo secretadas e recebidas por células não sabem se você ama a uma mulher ou a um homem. O amor é lindo de todas as suas formas e todos têm o direito de amar a quem quiserem e de serem amados. Assim, respeite a opinião dos outros, respeite a identidade de gênero de cada um, respeite a orientação sexual de cada um e respeite a individualidade de cada um. Porque assim, você estará respeitando o amor em todas as suas formas de expressão!

 

 

Referências utilizadas para fazer esse texto:

  • ZEKI S. The neurobiology of love. FEBS Letters, v. 581, n. 14, p. 2575–2579.
  • http://www.saocarlos.usp.br/o-amor-etambem-quimica/
  • Marazziti D, Canale D. Hormonal changes when falling in love. Psychoneuroendocrinology. 2004 Aug;29(7):931-6.
  • Insel, T., Young, L. A neurobiologia do apego. Nat Rev Neurosci 2 , 129–136 (2001).

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