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Radioactive na Netflix e o trabalho de Marie Curie

Conheça a trajetória e o trabalho de Marie Curie, protagonista da cinebiografia "Radioactive" da Netflix, que conduziu pesquisas pioneiras sobre a radioatividade e foi a primeira mulher a receber um prêmio Nobel, e primeira pessoa a receber tal prêmio em duas áreas da ciência distintas!

O filme “Radioative”, dirigido por Marjane Satrapi e estrelado por com o papel de Marie Curie, foi baseado no romance gráfico “Radioactive: Marie & Pierre Curie: A tale of love and fallout”, de Lauren Redniss. A cinebiografia aborda a vida da física e química Marie Curie (Rosamund Pike), com enfoque em seu relacionamento com Pierre Curie (Sam Riley), suas descobertas sobre o fênomeno de radioatividade e seus impactos para o futuro, além dos desafios e determinação como mulher cientista para ser aceita na época, dentro de uma sociedade ultraconservadora e machista.

Ficou interessade em entender mais sobre quem foi essa cientista incrível e suas principais contribuições no estudo da radioatividade e na inspiração na luta pelo reconhecimento de mulheres na ciência? Pois é sobre isso que será discutido neste post!

Uma breve biografia

Marie Skłodowska-Curie, cujo nome de batismo era Maria Salomea Skłodowska, nasceu na Varsóvia, Polônia, em 1867, filha de professores que apoiavam a educação e o interesse pela ciência dos filhos. Mostrava-se uma aluna excepcional, sempre buscando novos conhecimentos desde a infância. Entretanto, teve que superar vários obstáculos para seguir com os estudos no ensino superior, devido a dificuldades financeiras em um contexto de luta pela independência da Varsóvia, que no período fazia parte da Rússia, junto ao fato de que não havia universidades polonesas ou instituições russas que aceitavam mulheres. Por isto, teve que trabalhar como governanta por um período para sustentar a família e em 1891, partiu para a França para estudar física e matemática na Universidade da França (Sorbonne). Também foi neste período que mudou seu nome para Marie.

Em 1894, conheceu Pierre Curie, instrutor na Escola Superior de Física e Química Industriais de Paris, com quem se casou e teve duas filhas. Neste contexto, Marie estava desenvolvendo sua tese com a pesquisa sobre o fenômeno encontrado em urânio pelo físico Henri Becqerel, posteriormente denominado radioatividade pela mesma, e se tal propriedade é encontrada em outros elementos. Com o auxílio de Pierre, descobriu a existência de outros dois elementos com maior potencial radioativo que o urânio, presentes no composto pechblenda, que foram chamados de polônio, em homenagem ao país de origem de Marie, e rádio, vindo do latim “radius”, que significa raio.

Pelas contribuições na compreensão sobre o fenômeno de radioatividade, o casal Curie, junto a Henri Becqerel, foram nomeados ao prêmio Nobel de Física em 1903. Inicialmente, Marie não havia sido incluída na nomeação por conta de seu gênero, mas com a insistência de Pierre de que os créditos deveriam ir para sua companheira, seu nome também foi adicionado. Com isso, tornou-se a primeira mulher a receber um prêmio Nobel.

Em 1906, Pierre veio a falecer, após um acidente viário. Embora tenha ficado arrasada com a morte do marido, Marie continuou com as pesquisas e posteriormente assumiu o cargo de docente, anteriormente ocupado por Pierre, em Sorbonne. Também precisou lidar com diversos escândalos, sendo um deles o caso Langvein, de 1911, em que Marie foi acusada de estar tendo um relacionamento com Paul Langvein, seu colega que na época já era casado, sendo chamada de “judia estrangeira destruidora de lares”. Entretanto, isto não a impediu de ir a Estocolmo para receber o prêmio Nobel de Química, pela descoberta dos elementos polônio e rádio, além de conseguir isolar o rádio e estudar suas propriedades. Embora tenha sido aconselhada a não participar da premiação pela Academia Sueca por este escândalo, respondeu: “De fato, o prêmio foi concedido pela descoberta do rádio e do polônio. Acredito que não existe ligação alguma entre meu trabalho científico e minha vida particular.” Com isto, tornou se a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas distintas.

 

Criou o Instituto de Rádio em 1914 em Sorbonne, para estudar sobre aplicações medicinais da radioatividade. Além disso, estudou sobre as propriedades medicinais do rádio para o tratamento de tumores e, durante a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu o equipamento de radiografia móvel, chamado de petites Curies, com sua filha Irène, permitindo que, com exames de raio-X, os soldados tenham suas feridas tratadas com mais segurança, ajudando a salvar milhões de vidas. Após a Guerra, continuou com suas pesquisas e recebeu diversas premiações. Morreu em 1934 de leucemia por estar exposta à radioatividade por muito tempo em suas pesquisas, sem conhecer seus efeitos deletérios. Teve seus restos mortais levados ao panteão de Paris em 1995, sendo a primeira mulher a receber estas homenagens por seus méritos.

Descobertas em Radioatividade

Influenciada pela descoberta do raio-X, por Wilhelm Roentgen, e das propriedades do urânio de emitir raios penetrantes de forma espontânea, sem depender de energia vinda de fora, por Henri Becqerel, Marie Curie começou a desenvolver pesquisas em busca por outros compostos que tenham propriedades semelhantes ao urânio. Estudando tais propriedades, criou o termo “radioatividade” para caracterizar o fenômeno observado em alguns elementos de liberação de energia espontaneamente na forma de raios, emitindo fluorescência, ionizando gases, permitindo sua condução de eletricidade, além de atravessar superfícies sólidas e opacas, dependendo da estrutura atômica do elemento.

Analisando compostos de urânio, como o mineral pechblenda, Marie notou que tal composto apresentava maior atividade radioativa que o urânio puro e, mesmo com a separação deste elemento do mineral, a pechblenda ainda apresenta alta atividade radioativa. Com isto, concluiu que o mineral deveria apresentar outros elementos radioativos, com atividade maior que o urânio. Procurando por outros elementos radioativos, descobriu que o tório também apresentava tal propriedade. Com a ajuda de Pierre, desenvolveu uma técnica de isolamento de isótopos radioativos da pechblenda, levando a descoberta de dois novos elementos, denominados polônio e rádio.

Na área da medicina, Marie Curie descobriu sobre a aplicabilidade de isótopos de rádio no tratamento de neoplasias, dando origem à radioterapia. Quando expostas ao rádio, células tumorais são destruídas mais rapidamente que células normais, uma vez que a exposição de células à radiação promove a geração de íons e espécies reativas de oxigênio, que danificam as estruturas celulares, como o material genético. Como as células tumorais apresentam alta taxa de replicação e baixa capacidade de reparo, em comparação com células sadias, a danificação do DNA destas células pela radioterapia terá maior efeito deletério do que em células sadias, que conseguem reparar os danos antes da divisão celular. Além disso, durante a Primeira Guerra Mundial, o desenvolvimento de equipamentos de radiografia móveis permitiu que o serviço de raio-X chegue aos campos de batalha para auxiliar os profissionais de saúde nos exames de imagem de feridas dos soldados, permitindo a realização de cirurgias com mais segurança.

O que Marie não teve a chance de compreender foi os efeitos deletérios que a exposição a radiação por longos períodos sem a devida proteção poderiam causar so organismo. Como explicado anteriormente, a exposição de células à radiação causa danos a suas estruturas e material genético, devido à liberação de espécies reativas de oxigênio e íons. Tal fato pode danificar tecidos de forma irreversível, além de aumentar o risco de desenvolvimento de câncer, por conta da alta taxa de mutações nas células, com a danificação do DNA, o que infelizmente levou à morte de Marie Curie.

Legado e inspiração

Considerando as contribuições de Marie Curie nas pesquisas sobre a radioatividade, nota-se, como também foi mostrado no filme, que dependendo da forma como é utilizada, pode causar consequências tanto positivas como negativas. Por exemplo, da mesma forma que possibilitou o tratamento de diversas pessoas com câncer por meio da radioterapia, também foi responsável pela produção das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, e pelo desastre com o acidente na usina nuclear de Chernobyl. Estes impactos podem ser concluídos pela frase de Pierre Curie no filme: “você jogou uma pedra na água. Não cabe a você controlar as ondas que vão se formar a partir disso.”

Como você pode ter percebido com este post, Marie Curie teve que superar inúmeros desafios para continuar com suas pesquisas e ter seu trabalho reconhecido pela comunidade científica, principalmente pelo fato dela ser mulher, inserida em uma sociedade patriarcal e extremamente conservadora. Mesmo assim, conseguiu ser a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em diferentes áreas e mostrou que é possível sim ter mulheres realizando descobertas essenciais para a humanidade e serem devidamente reconhecidas por isso. Embora ainda vivemos em uma sociedade machista e preconceituosa, devemos seguir o exemplo de Marie e continuar com a luta pela igualdade de gêneros.

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