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O DNA e sua turbulenta descoberta

Conheça os acontecimentos por trás do desvendamento da estrutura da molécula da vida, fato que mudou a história da humanidade para sempre.

Atualmente, muito se sabe sobre o DNA e sobre a sua importância para a vida para a hereditariedade. Entretanto, nem sempre a estrutura e funcionamento da molécula da vida foi bem compreendida e pouco se sabe dos conflitos e disputas por trás dessa descoberta. Então, vamos explorar o mundo microscópico do DNA e o seu desvendamento! 

 

Primeiramente, precisamos estabelecer, o que é DNA? Esta tão famosa molécula não passa de uma grande repetição de nucleotídeos organizados de maneira helicoidal. Mas calma lá, nucleotídeos helicoidal, como assim?

 

Sim, o DNA é constituído de moléculas diferentes, ainda que similares. Os nucleotídeos são sempre compostos de três grupos de moléculas, sendo dois deles sempre presentes: o grupo fosfato, que é uma molécula inorgânica e confere a carga negativa ao DNA e a pentose, que é um açúcar e, para o DNA, é a desoxirribose. Além dessas, temos uma terceira molécula orgânica que pode ser diferente, possuindo 4 opções: Timina, Adenina, Guanina e Citosina. Assim temos 4 tipos de nucleotídeos diferentes que irão compor a nossa grande molécula de DNA.  E, importante, esses nucleotídeos tem seus favoritos, Timina só gosta de Adenina, fazendo ligação preferencialmente com ela, enquanto Citosina e Guanina formam um outro par. Guarde essa informação pra depois… Bom, agora que temos uma ideia bem básica da estrutura do DNA, senta que lá vem história.

Tudo começou em 1865, quando Mendel, o pai da genética, estudou os caracteres hereditários de ervilhas, em que as informações podem ser passadas através de gerações. Então, em 1871, Friedrich Miescher estava estudando linfócitos e conseguiu extrair uma substância branca, a qual ele batizou de nucleína, já que ele sabia que estava no núcleo. Posteriormente, um aluno de Miescher deu o nome de Ácidos Nucleicos.

Mas ainda assim, nessa época, não se tinha certeza que o DNA era responsável pela herança, pois muito se acreditava que proteínas desempenhavam essa função. Até que em 1944, Oswald Avery utilizou-se de estudos prévios com bactérias

virulentas e não virulentas de Frederick Griffith para provar a importância do DNA.


Basicamente, Griffith viu que ao misturar bactérias virulentas mortas às não virulentas ocorre uma transformação e as não virulentas começaram a expressar virulência. Posteriormente, Avery, interessado com esses estudos, tratou essas amostras com 3 soluções diferentes. Ao tratar a amostra com proteases, tirando assim as proteínas, e com ribonucleases, tirando o RNA, nada ocorreu e a transformação foi mantida. Entretanto, ao se tratar com desoxiribonuclease, tirando o DNA, a transformação não foi mantida. Assim, provando que o DNA é responsável pela transmissão de caracteres. Em 1952, Alfred Hershey e Martha Chase, utilizando bacteriofagos marcados radioativamente, mostraram, novamente, que o DNA é responsável pela herança de caracteres. 


Agora, voltando um pouco, em 1949 algo bem relevante para essa nossa história foi descoberto, Erwin Chargaff descobriu que a proporção de Timinas quando comparadas com Adeninas era sempre próxima de 1, assim como a de Citosina com Guanina. Assim, mostrou-se que Timinas ligam-se com Adeninas e Citosinas com Guaninas.


Mas agora chegamos no momento tenso dessa história. No começo da década de 50, muitos grupos de pesquisadores estavam tentando desvendar a estrutura do DNA, mas 3 se destacavam: Linus Pauling, Rosalind Franklin com Maurice Wilkins e James Watson com Francis Crick.


Linus Pauling propôs uma estrutura de tripla hélice com os grupos fosfatos virados para dentro, o que está errado já que o fosfato seria o “corrimão” da nossa escadinha do DNA. Quando Watson e Crick viram a estrutura de Pauling eles perceberam que ele estava errado, mas que Pauling estava muito perto de descobrir e estava à frente deles. Watson e Crick perceberam que Pauling estava errado pois eles leram o trabalho do Chargaff, lembra da importância dos nucleotídeos terem pares preferenciais? Então, eles imaginaram que, por estarem organizados em pares, a estrutura seria uma dupla hélice e não tripla.

Entretanto, eles não teriam chegado a essa conclusão se não fosse por Rosalind Franklin. Com seus estudos de cristalografia de raio-x e a famosa fotografia 51, Rosalind Franklin descobriu a estrutura do DNA. O X da fotografia indica que é helicoidal e a falha indica que é uma dupla hélice. Rosalind Franklin ainda foi capaz de dizer a distância de 0,34 nanômetros entre os nucleotídeos.

 

O que acontece é que Wilkins, que sempre menosprezou Rosalind Franklin, entregou os dados da pesquisadora para Watson e Crick que juntamente com o conhecimento dos pares proporcionado por Chargaff desvendaram em 1953 a estrutura do DNA.

 

Nove anos depois, em 1962 Watson, Crick e Wilkins ganharam um Nobel pela descoberta do DNA e a Rosalind Franklin não. Muitos dizem que ela não recebeu, pois ela já havia falecido, devido a intensa interação com raio x devido ao seu trabalho, e não há Nobel postmortem. Entretanto, as desavenças entre os ganhadores e Rosalind era clara , tanto que em seu livro, Watson menospreza Rosalind e outras pessoas com quem trabalhou e até chega a citar que ela poderia ser mais bonita se fizesse algo com o cabelo.

 

Assim, com muitas reviravoltas e anos bem agitados na corrida para desvendar a estrutura do DNA, a molécula foi finalmente descoberta com o auxílio de todos os nomes que aqui citamos e muitos outros. Sem essas inúmeras contribuições, sem os trabalhos de Avery, Chargaff e principalmente Rosalind Franklin o DNA teria demorado anos a mais para ser desvendado.

 

Embora essa história pudesse ter sido mais harmoniosa com o respeito e ajuda entre os pesquisadores, ela nos reforça a ideia de paradigmas até hoje vividos por diversas parcelas da sociedade no campo da ciência e muitos outros. Assim, devemos reconhecer a importância e a contribuição que as mulheres têm e tiveram na ciência. De todos os nomes citados neste texto apenas duas mulheres estavam presentes, isso não reflete a capacidade delas em produzir conhecimento, mas sim as dificuldades que enfrentam até hoje em todos os momentos da vida, precisando provar sua capacidade e se esforçar o dobro para receber metade.

Fotografia 51

Em ordem: James Watson, Francis Crick, Maurice Wilkins, e Rosalind Franklin

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