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É possível ser limpo demais? - Desvendando a Teoria da Higiene

 

O acesso global à higiene e ao saneamento básico é amplamente reconhecido como um avanço significativo para a saúde pública mundial. No entanto, é importante considerar se estamos pagando um preço excessivo na busca pela limpeza absoluta. A intrigante “Teoria da Higiene”, formulada por cientistas europeus na década de 90, examina os possíveis efeitos negativos de uma exposição insuficiente a micróbios, que pode contribuir para o surgimento de doenças alérgicas e autoimunes. Ao refletirmos sobre as implicações de práticas de limpeza excessivas em nossa saúde, vale a pena notar um estudo conduzido no Hospital de Gotemburgo, na Suécia, que sugere que lavar a louça à mão pode reduzir as chances de crianças desenvolverem alergias. Surpreendente, não é? Essa descoberta pode estar relacionada à “Teoria da Higiene” e sua ideia de que uma exposição reduzida a micróbios pode prejudicar o sistema imunológico. Venha com a gente explorar mais profundamente esse fascinante tema!

No Brasil, mais de 100 milhões de pessoas ainda vivem em locais sem coleta de esgoto e em condições extremamente precárias de saúde. Esse dado não é preocupante somente pelas más condições de vida desses cidadãos, mas também por que essas condições propiciam a proliferação de uma série de doenças altamente contagiosas. Diarreia, disenteria, cólera e muitas verminoses são os males que mais acometem essas pessoas e que, felizmente, são facilmente evitáveis através de um bom saneamento básico. Agora que entendemos que o acesso ao saneamento básico não é uma realidade para todos, vamos analisar os efeitos na saúde de pessoas que não tem somente isso, mas também vivem sob uma constante de higiene e limpeza.

 

Você já parou para pensar, a fundo, no que é alergia? Algo que parece tão comum e inofensivo no cotidiano, em verdade, pode ser um forte indicativo de comprometimento imunológico. Isso porque a alergia é uma reação exagerada do corpo, quando nosso sistema de defesa está prestes a esgotar seus recursos, ele reage de forma exacerbada para tentar eliminar o organismo que está fazendo mal e acaba por causar danos ao organismo. Uma pesquisa de 2002 analisou lençóis de cama de crianças que viviam em fazendas e percebeu que, quando os tecidos estavam com uma quantidade alta de bactérias, essas crianças desenvolviam menos reações alérgicas do que outras que não haviam sido expostas a tantos microrganismos. Colocar crianças sob uma redoma de assepsia pode, em princípio, parecer uma boa ideia. Porém, a falta de exposição a micróbios têm se demonstrado um forte fator para enfraquecer o sistema imunológico. Assim, percebe-se que tudo em excesso, inclusive a higiene, pode ser prejudicial.

 

Neste momento, você pode estar com os seguintes fatos em mente: a exposição excessiva a microrganismos e falta de saneamento básico podem gerar doenças tão perigosas, ao mesmo tempo, viver em um ambiente praticamente estéril também pode ser prejudicial à saúde. Em vista disso, o que devemos fazer? 

 

 

O sistema imunológico é o nosso mecanismo de defesa contra tudo aquilo que pode nos fazer mal, seja uma bactéria, um vírus ou um parasita. Esse sistema é composto por células específicas que funcionam como soldados, sempre em prontidão, para defender nosso organismo de qualquer ameaça. Algumas delas, as chamadas células de memória, são especialmente importantes por lembrarem das fraquezas dos invasores e ajudarem o sistema imunológico a derrotá-los mais rapidamente da próxima vez que tentarem nos prejudicar. Um estudo publicado na revista Science sugere que quando nos expomos a microorganismos nocivos, quando ainda somos recém-nascidos, podemos já desenvolver uma melhor resposta imunológica e, assim, nos prevenir de uma série de doenças como asma e inflamações gastrointestinais. Dentro de nosso intestino, temos uma imensa família de bactérias benéficas ao nosso organismo, chamada de microbiota intestinal, a qual tem profunda relação com nosso humor, nossa digestão e, principalmente, nosso sistema imunológico. Esse agregado bacteriano começa a se formar quando nascemos, a partir das bactérias de nossas mães, e continua crescendo conforme nos expomos a diferentes micróbios, o que faz com que ele se fortaleça. Assim, o resultado final da investigação demonstrou que o contato com patógenos no início da vida é de importância crítica para que o sistema imunológico crie tolerância e aprenda a responder a infecções futuras.

 

 

No entanto, é importante ressaltar que a Teoria da Higiene não defende a falta de higiene ou o retorno a condições insalubres. A higiene continua sendo fundamental para prevenir a propagação de doenças infecciosas, desde a gripe até as verminoses letais. Em vez disso, a teoria enfatiza a importância de encontrar um equilíbrio entre a exposição a microrganismos necessários para o desenvolvimento do sistema imunológico e a adoção de práticas adequadas de higiene e prevenção de doenças.

Foi pensando nisso tudo que a Teoria da Higiene foi formulada com o intento de tentar provar que a exposição a um mundo asséptico tem relação direta com o enfraquecimento do sistema imunológico. Essa linha de pensamento ainda tem muitas lacunas para serem preenchidas e, essas questões em aberto estão sendo aos poucos respondidas, servindo como método de raciocínio para o avanço da ciência.

 

Referências utilizadas no texto:

  1. É preciso ser um pouco sujo para ficar saudável? | Ciência | EL PAÍS Brasil
  2. Allergy in Children in Hand Versus Machine Dishwashing
  3. Hay fever, hygiene, and household size
  4. https://habitatbrasil.org.br/doencas-falta-de-saneamento-basico/
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3437652/
  6. https://www.cartacapital.com.br/educacao/alergia-em-criancas-pode-estar-ligada-a-limpeza-excessiva/
  7. https://agencia.fapesp.br/teoria-da-higiene/2027/#:~:text=O%20racioc%C3%ADnio%20b%C3%A1sico%20de%20um,de%20doen%C3%A7as%20como%20a%20asma.

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