Entenda como a substituição ilegal do etanol por metanol em bebidas alcoólicas falsificadas pode causar intoxicações graves e até a morte.
O assunto que ganhou destaque na última semana no Brasil foram os casos de intoxicação pelo consumo de bebidas alcoólicas falsificadas. Alguns episódios resultaram na morte de pessoas, o que gerou grande preocupação na população e um intenso alvoroço nas redes e na mídia. Até o momento, 17 casos de contaminação foram confirmados no país desde a última semana, e 2 mortes foram oficialmente registradas pelo governo do Estado de São Paulo.
As autoridades acreditam que os casos estejam relacionados ao uso de metanol na falsificação de bebidas alcoólicas, uma vez que o composto tem custo inferior e maior rendimento em volume do que o etanol – o álcool etílico, utilizado legalmente na fabricação de bebidas alcoólicas. O metanol é, portanto, empregado de forma ilegal para baratear a produção, representando grave risco à saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que esse tipo de adulteração é comum em produções informais em diversos países, e que essas bebidas podem ser vendidas até mesmo em bares e estabelecimentos legítimos, muitas vezes com embalagens falsificadas e de difícil identificação.
Embora os casos recentes tenham assustado a população, o problema não é novo. Um relatório divulgado neste ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) aponta que o mercado ilegal de bebidas alcoólicas movimentou cerca de R$ 56,9 bilhões no Brasil — um aumento de 224% em relação a 2017. Ainda segundo o relatório, a sonegação fiscal do setor ultrapassou R$ 28 bilhões apenas em 2023.
O metanol pode estar presente naturalmente em bebidas fermentadas, como cerveja e vinho, mas em quantidades muito pequenas, que não oferecem risco à saúde. O problema está associado às altas concentrações encontradas em bebidas destiladas, seja por falhas no processo de destilação, seja pela adição intencional da substância em bebidas produzidas ilegalmente. Entre as principais bebidas destiladas, podemos citar: vodka, whisky, cachaça, gin, rum, conhaque e tequila.
Embora o termo “álcool” seja popularmente usado para se referir ao etanol, o metanol, também chamado de álcool metílico, pertence à mesma classe de substâncias químicas. Em química, o termo “álcool” se aplica a qualquer composto em que um átomo de carbono (C) está ligado a um grupo hidroxila (-OH), substituindo um átomo de hidrogênio.
O etanol (C₂H₅OH), embora cause embriaguez, é considerado seguro para consumo, desde que ingerido com moderação. No organismo, é absorvido sem alteração pelo estômago e pelo intestino delgado. Cerca de 10% do volume ingerido é eliminado sem alteração pela urina, suor e respiração, enquanto o restante é metabolizado pelo fígado.
A metabolização do etanol ocorre em duas etapas:
O álcool é convertido em acetaldeído, substância responsável por sintomas como aumento da frequência cardíaca, tontura, vermelhidão e ressaca. Em seguida, o acetaldeído é transformado em ácido acético – o mesmo presente no vinagre, que é inofensivo ao organismo.
Já o metanol (CH₃OH) é um álcool de cadeia mais simples que, ao ser metabolizado, origina ácido fórmico, uma substância altamente tóxica e corrosiva. O ácido fórmico afeta o nervo óptico, danifica estruturas do sistema nervoso central e altera o pH do sangue, comprometendo o metabolismo celular e o funcionamento de órgãos vitais. Esses efeitos podem levar a complicações graves, incluindo falência de múltiplos sistemas, segundo o infectologista Ramos, integrante do Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
O metanol é rapidamente absorvido pelo organismo, e os sintomas da intoxicação podem surgir entre 2 e 48 horas após a ingestão, dependendo da quantidade consumida. Como a absorção ocorre de forma muito rápida, a lavagem gástrica pode ser ineficaz.
Durante a metabolização hepática, o metanol se transforma em substâncias tóxicas que entram na corrente sanguínea e afetam principalmente os neurônios, provocando dor de cabeça intensa, visão turva e, em casos graves, cegueira.
Ao ser digerido, o corpo produz compostos extremamente ácidos, resultando em acidose metabólica – um desequilíbrio que torna o sangue mais ácido que o normal. O organismo tenta compensar essa acidez por meio de respiração acelerada, buscando eliminar o excesso de dióxido de carbono. Esse desequilíbrio afeta todas as células, mas o coração é um dos primeiros órgãos a sofrer, pois depende de condições muito estáveis para manter os batimentos cardíacos. Quando essa estabilidade é comprometida, a função cardíaca é afetada, agravando o quadro clínico.
O sistema respiratório também é sobrecarregado, pois precisa trabalhar mais intensamente para equilibrar o organismo. Já os rins tentam reter bicarbonato, uma substância alcalina, para neutralizar a acidez – mas esse esforço prejudica sua função de filtração e pode levar à insuficiência renal.
A combinação desses fatores – toxinas no sangue, acidose metabólica e sobrecarga de órgãos vitais – pode evoluir para falência múltipla, tornando a intoxicação por metanol uma condição grave e potencialmente fatal.
Para reduzir os riscos, recomenda-se:
Caso haja suspeita de adulteração, não consuma a bebida e busque auxílio especializado.
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Referências:
Gazeta do Povo – “Entenda a diferença entre etanol e metanol e por que substituição pode ser fatal”
YANO, Célio. Entenda a diferença entre etanol e metanol e por que substituição pode ser fatal. Gazeta do Povo, 01 out. 2025. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/diferenca-etanol-metanol/. Acesso em: [07/10/2025].
Drauzio Varella – “Intoxicação por metanol: o que fazer?”
VARELLA, Drauzio. Intoxicação por metanol: o que fazer? Portal Drauzio Varella, 03 out. 2025. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/videos/intoxicacao-por-metanol-o-que-fazer/. Acesso em: [07/10/2025].
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